A nova versão do Verso do Anel de O Senhor dos Anéis está dando o que falar. Neste vídeo, explico exatamente como é traduzir poesia e por que soluções perfeitas são impossíveis.
O original do poema em O Silmarillion:
He chanted a song of wizardry,
of piercing, opening, of treachery,
revealing, uncovering, betraying.
Then sudden Felagund there swaying
sang in answer a song of staying,
resisting, battling against power,
of secrets kept, strength like a tower,
and trust unbroken, freedom, escape;
of changing and of shifting shape,
of snares eluded, broken traps,
the prison opening, the chain that snaps.
Backwards and forwards swayed their song,
reeling and foundering, as ever more strong
the chanting swelled, Felagund fought,
and all the magic and might he brought
of Elvenesse into his words.
Softly in the gloom they heard the birds
singing afar in Nargothrond,
the sighing of the sea beyond,
beyond the western world, on sand,
on sand of pearls in Elvenland.
Then the gloom gathered: darkness growing
in Valinor, the red blood flowing
beside the sea, where the Noldor slew
the Foamriders, and stealing drew
their white ships with their white sails
from lamplit havens. The wind wails.
The wolf howls. The ravens flee.
The ice mutters in the mouths of the sea.
The captives sad in Angband mourn.
Thunder rumbles, the fires burn -
and Finrod fell before the throne.
A tradução literal, sem a forma poética, do poema de O Silmarillion:
Ele entoou uma canção de bruxaria,
De trespassar, de abrir, de traição,
Revelação, descobrimento, aleivosia.
Então de repente Felagund, ali soçobrando
Cantou em resposta uma canção de permanência,
Resistência, batalha contra o poder,
De segredos mantidos, força como a de uma torre,
E confiança inquebrável, liberdade, fuga;
De mudança e transformação de forma,
De laços iludidos, armadilhas quebradas,
A prisão que se abre, a corrente que se quebra.
Para trás e para frente oscilou a canção deles.
Desequilibrando-se e afundando, conforme cada vez mais forte
O canto crescia, Felagund lutava,
E toda a magia e o poder trouxe
De Elvenesse às suas palavras.
Suavemente na treva ouviram as aves
Cantando ao longe em Nargothrond,
O suspirar do Mar além,
Além do mundo ocidental, na areia,
Na areia de pérolas na Terra dos Elfos.
Então a treva se juntou; a escuridão crescendo
Em Valinor, o sangue vermelho correndo
À beira do mar, onde os Noldor mataram
Os Ginetes-da-Espuma, e roubando levaram
Seus navios brancos com suas velas brancas
Dos portos iluminados com lâmpadas. O vento geme,
O lobo uiva. Os corvos fogem.
Geme o gelo na foz do Mar.
Os cativos tristes em Angband pranteiam.
O trovão ruge, os fogos queimam –
E Finrod caiu diante do trono.
A tradução em verso, com métrica e rima, feita por mim mesmo:
Cantou canção de bruxaria,
De trespassar co’ aleivosia,
De desnudar e atraiçoar.
Então Finrod, a balouçar,
Em desafio foi cantar
De resistir contra o poder,
Segredo em torre, sem ceder,
Fé inquebrantável, livre, audaz;
De transformar feição veraz,
De armadilha e laço frustrados,
Prisão se abre, grilhões quebrados.
Avante e atrás ia a canção.
Quase a tombar, pois de roldão
O canto crescia, lutava
O Rei, e a magia lançava
D’Elvenesse em seu trovar.
Ouviram som de aves no ar
Em Nargothrond, na treva além,
Suspiros que dos Mares vêm
Além do Oeste, aquela praia,
Praia da élfica atalaia.
A treva então cresceu; no escuro
Corre em Valinor sangue puro
À beira-mar, onde mataram
Ginetes-de-ondas, e levaram
Suas alvas naus de alvas velas
Do porto. Grita o vento nelas,
Uiva o lobo, o corvo a grasnar,
Resmunga o gelo na foz do Mar.
Em Angband os cativos choram.
Ruge o trovão, fogos devoram –
E Finrod junto ao trono cai.
A versão de Ronald Kyrmse que acabou sendo publicada:
A canção dele é de magia,
perfura, abre, é aleivosia,
revela, e descobre, e trai.
Por sua vez Felagund sai,
entoa um canto que o distrai,
de resistência que não morre,
secreto e forte como torre,
de livre fuga confiante,
transformação, forma cambiante,
rompe a armadilha e o cordão,
quebra a cadeia, abre a prisão.
Num vai e vem oscila o canto.
A balançar, mais forte entanto
É Sauron, mas Finrod porfia,
traz o poder, traz a magia
de Elvenesse aos versos graves.
Na treva ouvem logo as aves
em Nargothrond longe a cantar,
suspiros que vêm lá do mar,
da areia além do ocidente,
em Casadelfos, orla ardente.
Então cai sombra: a luz já morre
em Valinor, e o sangue escorre
na costa onde irmãos tombaram
nas mãos dos Gnomos, que roubaram
as brancas naus de branca vela
do alvo cais. Geme procela.
Uiva o lobo. Foge o corvo.
No mar o gelo estala, estorvo.
Em Angband todo escravo clama.
Trovão ribomba, arde a chama –
e Finrod junto ao trono cai.
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